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O Evangelho de Mateus, apresenta o sermão da montanha como o comprimento da Tora: Como Moises vai ao alto do monte Sinai para receber a Tora, assim Jesus vai “sobre o monte” para entregar ao povo a nova tora.

  1. “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, quem matar será réu de Juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar com o seu irmão, será réu de juízo ... ”
  2. “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela...”
  3. “Também foi dito: Quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que todo aquele repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério…”
  4. “Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás em falso, mas eu, porém, vos digo que de nenhuma maneira jureis; …”
  5. “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Mas eu, porém, vos digo não resistais ao malvado, mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; ... ”
  6. “Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e faz chover sobre justos e injustos...”

Nenhum outro texto soa radicalmente novo assim a dos mil anos de distância da sua redação. Contrariamente à percepção, mas difundida o núcleo do sermão da montanha não são as bem-aventuranças, mas o enunciado neste novo decálogo de seis artículos, que Jesus proclama atribuindo-se sobre si a autoridade mesma de Deus e que contrapõe explicitamente o antigo (Ouvistes que foi dito... Mas eu, porém, vos digo.). O sermão vai mais adiante do decálogo. A nova Tora culmina no convite a amar aos inimigos que é o coração de todos os ensinamentos de Jesus.

João Paulo II, em 1987, disse:
“Eis aqui o aperfeiçoamento definitivo, no qual, encontram no centro dinâmico todos os outros: Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos,» a interpretação vulgar da antiga lei que identificava o próximo com o israelita, ou melhor, com o israelita piedoso, Jesus confronta a autentica interpretação do mandamento de Deus e acrescenta a dimensão religiosa da referência ao Pai celestial, clemente e misericordioso, que beneficia a todos e é, por tanto, o modelo supremo do amor universal. Conclui, em efeito, Jesus: Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai Celestial.(Mt 5,48), Ele pede aos seus seguidores a perfeição do amor. A nova lei que ele trai contém a sua síntese no amor. Este amor fara o homem superar nas suas relações com os demais a contraposição clássica amigo-inimigo, e tenderia desde o interior dos corações a traduzir-se em correspondentes formas de solidariedade social e política, também institucionalizada. Será, pois, bem ampla, na história, a irradiação do mandamento novo de Jesus.” [1]

JesusOnCrossTodas as culturas se fundamentam sobre esta oposição amigo-inimigo. O divergente pela raça, pelo comportamento, pela língua, pelo clã, pela tribo, pela nação, que hoje pode ser o judio, amanhã o kulakho, o homossexual, o gitano, é sempre visto como o inimigo, que se deve controlar ou matar. A história e a cultura ocidentais, estão profundamente marcadas por este evangelho: detrás de toda a iniciativa a favor dos oprimidos, dos excluídos, das minorias, detrás de toda a postura contraria a tortura, da segregação racial, da escravidão, se encontra sempre esta palavra: Amai aos vossos Inimigos.

Nietzche, profeta do nihilismo pós-moderno atual, sublinhou com grande claridade que a raiz de qualquer ideia de compaixão e de piedade para com os mais débeis e os adversos se encontram nas palavras do Evangelho. Estas são as bases escondidas de toda a ideia de tolerância universal, as ideias que de outra maneira não seriam cogitadas nas culturas que não foram fermentadas pelo Sermão da Montanha. Eliminemo-lo e o homem retorna ao seu estado de barbárie dionisíaco do sacrifício humano” precisamente no século XX, vimos a máxima investida para tentar eliminar o cristianismo do ocidente. Observou grandes atrocidades, aonde somente existe lugar para o mais forte, para aqueles que são da minha nação, da minha raça o do meu partido.

Jesus apresenta aqui uma nova maneira de viver e solucionar os conflitos, não se vingar mais,...

Jesus apresenta aqui uma nova maneira de viver e solucionar os conflitos, não se vingar mais ante as injustiças, mas experimentar a misericórdia no lugar do julgamento. O papa, em um discurso feito na Irlanda em 1983, considerou o conflito anglo-irlandês desde a seguinte perspectiva:

icon esteban«Eu vos peço que reflexioneis profundamente: O que seria a vida humana se Jesus não tivesse nunca pronunciado estas palavras (amai aos vossos inimigos)? Que seria do mundo se nas nossas relações mutuas déssemos as primícias ao ódio entre os indivíduos, entre as classes, entre as nações? Qual seria o futuro da Humanidade se tivéssemos que fundar sobre este ódio o futuro dos indivíduos e das nações? Talvez se poderia ter a impressão que, diante das experiências da história e das situações concretas, o amor perdeu a sua força e é impossível colocar-lhe em prática. Porém, a longo prazo, o amor sempre conduz a vitória, o amor nunca sucumbe. Se não fosse assim, a humanidade estaria condenada a destruição...» [2]

Sem esta raiz a sociedade humana se arrisca constantemente a dissolver-se na reciproca violência – hoje de uma forma ainda mais óbvia no tempo da guerra nuclear – e a única maneira de proteger-lhe é a possibilidade aberta por Jesus de poder amar o inimigo. Falando no cemitério polonês de Monte Cassino no ano de 1979, João Paulo II afirma que a experiência das duas grandes guerras mundiais ensinou algo bem profundo ao homem:

«O evangelho de hoje se contrapõe aos programas. Um fundado no princípio do ódio, da vingança e da luta. E o outro na lei do amor. Cristo diz: "amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5,44) ..., Porém, depois de experiências tão terríveis como a última guerra, nos tornamos ainda mais conscientes sobre o princípio que diz: " Olho por olho e dente por dente" (Mt 5,38). Não se pode construir a paz e a reconciliação entre os homens e entre as nações sobre o princípio do ódio, da vingança e da luta.» [3]

Em cada geração, o servo de Yahweh, o cordeiro manso que se deixa matar sem responder ao mal com o mal e a violência com a violência, mas salva a humanidade e bloqueia a onda do mal que de outra maneira tende a crescer mais e mais e a esmagar aos mais débeis.
 
Segundo João Paulo II esta visão, que alguns consideram utópica e irreal, é, porém, a única a opção realista. Utópica ao contrário é a pretensão de solucionar os conflitos sobre a base de uma justiça meramente humana. Não se trata de um pacifismo cego e passivo, de um programa utópico. A Igreja cai no utopismo próprio quando busca solucionar os conflitos sociais ou políticos com doutrinas humanas:

« Seria uma mera utopia prescindir do evangelho, para quem quisesse curar desde a raíz, estas e outras questões que tocam diretamente o coração do homem. Somente no ideal evangélico da caridade heroica, que Cristo ousou propor aos seus seguidores, reside o segredo da vitória sobre estas paixões, que envenenam os espíritos: "Eu, porém, vos digo amai aos vossos inimigos, e fazei o bem aos que vos odeiam...» [4]

A vontade de prescindir do evangelho é uma utopia porque significaria ignorar que o mal nasce do coração de cada homem, já que o problema fundamental do homem consiste em que, diante do medo da morte, diante do sem sentido da vida, não encontra uma resposta para o sofrimento, negar esta realidade significa estar condenado a viver para si mesmo. O pecado, que vive nele, obriga o homem a oferecer-se a si mesmo todas as coisas: a sexualidade, o dinheiro, a família, a cultura, etc. O seu Eu é o centro do universo. Todos nós estamos diante um problema: não nos podemos entregar, sacrificar-nos e algo bem difícil, é duro sofrer. Por isso o homem está condenado a oferecer-se todas as coisas a si mesmo: é um egoísta.

Mas com Jesus aparece uma nova humanidade. Cristo venceu a morte é esta Ressuscitado!

«Pois o amor de Cristo nos compele, quando consideramos que se um morreu por todos, logo todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.» [5]

Que significa que todos morreram? Que Cristo deu a vida de modo que todos os homens possam ser libertados da morte, do poder que a morte tem sobre eles. Cristo veio a liberar-nos dessa condição existencial, fazendo-nos novas criaturas, renascidas do alto. Somente renascendo em Cristo podemos amar ao inimigo, podemos perdoar, podemos dar a vida, podemos nos abrir a vida, podemos entrar no sofrimento. O homem, através de Cristo, está diante de duas possibilidades: o dom completo de dar-se, aos próprios irmãos ou o total encerramento do coração dos homens uns aos outros, no nosso egoísmo.

«Cristo conhece bem as dificuldades que provam os homens para reconciliar-se entre eles. Com o sacrifício redentor obteve para todos a força necessária para superá-las... A Cruz fez cair todas as barreiras que fecham os corações dos homens uns aos outros. No mundo se percebe uma grande necessidade de reconciliação. As lutas as vezes assaltam todos os campos da vida individual, familiar, social, nacional e internacional. Se Cristo não tivesse sofrido para estabelecer a unidade da comunidade humana se poderia pensar que tais conflitos seriam irremediáveis ...»[6]

youthCristo, além disso, pede aquele que crê de ir até o que lhe é hostil, e lhe faz o mal: "amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5,44). Mas como é possível ao homem colocar em prática um convite assim tão exigente, se Deus mesmo não te tocasse o coração? [7] A fé, ou seja, o encontro com Cristo Ressuscitado, antecede a caridade e é a sua causa. Por esta razão o martírio é a ação mais significativa do Cristiano. Depois que Jesus lhes deu este paradigmático catecismo, esta carta magna do cristianismo, este desenho do novo homem nasce do alto, e envia os apóstolos a todas as nações.

Sobre este monte depois de 2000 anos desde quando Jesus envio aos seus apóstolos a todas as nações, pela primeira vez, Pedro se reúne com milhares de Jovens de todo o mundo. Isto quer dizer que o mandato que os Apóstolos receberam se cumpriu: estes jovens são o testemunho de que esta palavra se realizou. Mas este evento tem um sentido bem mais profundo: para ver este monte cheio de jovens de todo o mundo, acompanhando a Pedro no começo do novo milênio, têm um sentido profético para as futuras gerações.

«Se trata, na verdade, agora de olhar o futuro, e isso vos pertence, aos jovens. É necessário que tomem os grandes caminhos da história, não somente aqui na Europa, senão em todos os continentes; e que por doquier os convertais em testemunhas das bem-aventuranças de Cristo:" Bem-aventurados os que operam a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt.5,9)» [8]

Hoje estamos vivendo uma época que gostaria de apagar todas estas palavras. Por isso o Papa afirmou:

«O Futuro de todos povos e nações, o futuro da mesma humanidade depende disso: se as palavras de Jesus no sermão da montanha, se a mensagem do evangelho será ouvida uma outra vez.» [9]


Referências

[1] João Paulo II, Audiência Geral, 14 de Outubro de 1987.
[2] João Paulo II, Homília a Galway, na Irlanda, 30 de Setembro de 1979.
[3] João Paulo II, Homília no Cemitério Polonês de Montecassino, 17 de Maio de 1979.
[4] João Paulo II, Audiência com o grupo de peregrinos, 3 Março 1984.
[5] 2 Cor 5, 14-15.
[6] João Paulo II, Audiência Geral, 18 Maio 1983.
[7] João Paulo II, Missa no aeroporto - Szombathely, Agosto 1991.
[8] João Paulo II, Chegada no Santuário de Jasna Gora- Hungria, 14 Agosto 1991.
[9] João Paulo II, Homília a Galway, Irlanda, 30 Setembro 1979.